sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Bienvenue, para onde vamos?


N’outros tempos, outras barricadas, outros desejos, anseios de uma revolução. Por agora, greve geral na França, novamente. Essas ruas há muito estavam vazias, ou melhor, esvaziadas. Pois não basta perambular pelas ruas, é preciso ocupá-las. São as urgências de hoje, não as de ontem, com a multidão de agora e de sempre que animam esta greve que já dura semanas na França. As ”barricadas do desejo” de outrora, do famoso maio francês de 68 não são as mesmas de hoje, pois aquelas já passaram, e as dos nossos dias também estão a passar. A revolução não dura para sempre, mas pode ser eterna em muitos dos seus mais delicados gestos. Nos idos de 1980 Guattari nos alertou quanto ao terror dos “Anos de Inverno”, tempo morto Kantiano, em que nada se produz, em que não há revolta e sim aceitação, acomodação, colaboração. Para este camarada, que viveu a primavera dos anos de 1960, suas implicações e engajamentos, o paradeiro, a indiferença, a ausência de movimento são tão gelados e sofridos como uma espécie de morte em Vida. As ruas estão logo ali, com suas esquinas, e nós, para onde vamos?

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Nós, um pronome (ainda) perigoso


"I believe in miracles, I believe in a better world, for me and you.” – Ramones

Nossos dias e seus desafios, ou melhor, nossos desafios.


Nós, quando foi a última vez que você evocou este pronome? Ou quando vai ser, de fato, a sua primeira vez? Sim, quando vai ser a sua estréia? Que seja agora, pois há urgências em demasia, espalhadas por toda parte, rondando as esquinas.


Somos convocados pelas urgências de cada esquina, a cada passo, a cada fôlego, podemos aceitar nos implicar com estes desafios que a partir de nossa decisão se tornam nossos e fazer micropolítica, ou não. Eis uma escolha que não permite neutralidade - "A neutralidade é verde, a tristeza é azul e a alegria é vermelha." Os desafios são nossos, ou se tornam nossos na medida de nossas implicações. Implicações, tal como os institucionalistas franceses, e destaco aqui especialmente as contribuições de Lourau e Lapassade, definem este termo, levando-nos a fazermos cotidianamente a análise de nossas implicações. Naquilo que no âmbito individual e também coletivo nos atravessa, nos mobiliza, nos move, nos comove, nos paralisa, nos subverte, nos desassossega, etc.


Nós, pronome raro em sua força, não tão raro em sua freqüência de utilização. Mais mal tratado no dia a dia do que utilizado no grau máximo de sua potência, naquilo que o “nós pode”. Nas muitas oportunidades em que é evocado, isso se faz de modo no geral tão banalizado, que no mais das vezes, quando me incluem nesse coro, eu corro e prefiro ficar fora. Se utilizado de maneira apressada, o nós, tal como um nó frouxo, serve apenas para agrupar um amontoado de indivíduos e suas vaidades.


É que já experimentei os riscos deste pronome perigoso e não quero ser envolvido quando envolvimento não há. Nós, o pronome perigoso, como Richard Sennett bem ressaltou em seu livro “A corrosão do caráter: conseqüências pessoais do trabalho no novo capitalismo”, pois pode nos permitir acionar e conectar as raras forças de resistência de um coletivo, no sentido de invenção de modos de Vida em comum, daquilo que advém das alianças capazes de fazer de um lugar uma comunidade.


É nesse sentido que eu acredito em milagres, acredito num mundo melhor para nós todos. E do milagre podemos criar uma utopia ativa.